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segunda-feira, 7 de junho de 2010

O dia em que a bicicleta “correu” de Lampião!

No próximo dia 13 de junho se comemora aqui em Mossoró a efetiva resistência dos munícipes à invasão pelo bando do mais famoso cangaceiro nordestino, o Lampião. A literatura em torno desse ícone é ampla e cheia de controvérsias, mas diante de tantas histórias daquele temido homem nordestino há uma que escolhi destacar pela curiosa importância que teve a bicicleta nesse entremeio. A foto abaixo é uma das melhores que sobreviveram ao tempo e foi batida no Largo da Igreja Matriz da cidade de Limoeiro do Norte/CE pelo então fotógrafo Francisco Ribeiro que em sua bicicleta se dispôs a revelar a foto aqui na cidade potiguar.. Não se sabe ao certo se ele percorreu esses 90 km que separam as duas cidades em sua bike, mas levando em conta a tensão daquele momento é muito provável que o “cabra” tenha mesmo saído em disparada. Para que se entenda melhor esse momento de apreensão, vou tentar explicar melhor o período que se antecedeu para a realização desta foto.
Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e seu bando (pouco mais de 40 homens) entraram em território potiguar pela cidade de Luís Gomes na noite do dia 9 de junho de 1927 e tinham como objetivo realizar uma invasão na cidade de Mossoró que contava na época com 25 mil habitantes. Era uma grande cidade para a época. Lampião costumava invadir cidades pequenas e esse seria seu primeiro e maior desafio, mas foi um fracasso de acordo com a História. Aos 12 de junho daquele ano, o grupo de Lampião chega ao povoado de São Sebastião, hoje cidade de Governador Dix-Sept Rosado. Enquanto isso, Mossoró comemorava suas festas juninas quando chega um telegrama urgente para o prefeito Rodolfo Fernandes relatando sobre as intenções do bando de Lampião em invadir o município. O prefeito imediatamente manda esvaziar a cidade, monta diversas trincheiras nos arredores, e então recebe um bilhete. A pequena mensagem exigia 400 contos de Réis para que a cidade fosse poupada do ataque, mas Rodolfo Fernandes recusa e em outro bilhete diz que aguarda o bando à bala. Cerca de 300 homens mossoroenses se dispuseram armados e se espalharam em pontos estratégicos. Lampião, então, resolve dividir três grupos de ataque e parte para o assalto à cidade. Às 16h do dia 13, a “chuva de balas” se inicia na zona urbana, um grupo ataca a casa do prefeito, outro se dirige para a estação ferroviária e outro entra pelo cemitério. Uma hora depois, Lampião começa a recuar e deixa para trás dois de seus principais integrantes, Colchete abatido a tiros e Jararaca ferido e preso. Os cangaceiros fogem e tomam rumo para a cidade de Limoeiro do Norte no Ceará. O Juiz de Paz cearense, Custódio Saraiva, recebe antecipadamente a notícia do ocorrido em Mossoró e sobre a direção tomada pelo grupo de cangaceiros. Sem força policial naquele instante, o Juiz resolve esvaziar a cidade. Lampião chega em missão de “paz” na cidade no dia 15 de junho e traz consigo dois (há quem fale em quatro) reféns capturados durante a tentativa de invasão, Dona Maria José e o Coronel Gurgel que era o sogro do gerente do Banco do Brasil potiguar. O Rei do Cangaço exige um resgate de 80 contos de réis pelos reféns, sendo este solicitado por telegrama enviado ao prefeito Rodolfo Fernandes pelo Juiz de Paz Saraiva. Enquanto aguarda a chegada do pagamento do resgate, Lampião é “presenteado” com um jantar num hotel da cidade ao Largo da Igreja Matriz. Aliás, seu intuito seria jamais atacar cidade alguma da terra de seu “Padim Ciço”. De acordo com relatos, um fotógrafo foi chamado para que realizasse duas fotos de todo o grupo com seus reféns. Francisco Ribeiro de Castro, ciclista e fotógrafo, realizou seu trabalho e saiu em sua bicicleta a toda velocidade em busca de revelar, em Mossoró, a foto antes da partida do grupo.Este fato não se concretizou pela retirada antecipada de Lampião diante da notícia de aproximação de policiais. Hoje em dia, os visitantes podem conhecer um pouco dessa trajetória de Lampião, nesta cidade potiguar, através do Memorial do Cangaço onde se pode observar vasto material acerca do assunto. Embora existam alguns poucos relatos de situações embaraçosas de Lampião e a bicicleta, sabe-se que ele nunca aprendeu a pedalar mesmo, levou tombos e foi alvo de chacotas de seus amigos do bando. De toda maneira, vê-se a grande encruzilhada em que se meteu esse ilustre fotógrafo ciclista naquele dia de tensão e medo.



P.S.: Quem tiver interesse sobre a história do cangaço no nordeste do Brasil acesse o link http://sbec-mossoro.blogspot.com/. Existem estudos muito criteriosos aos interessados.

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